- as imagens das colunas laterais têm quase todas links ..
- nas páginas 'autónomas' (abaixo) vou recolhendo posts recuperados do 'vento 1', acrescentando algo novo ..

música.pt

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ZECA AFONSO


José Afonso foi o maior compositor e intérprete de música de intervenção durante a ditadura fascista que acabaria a 25 de Abril de 1974. Como compositor, soube conciliar de forma notável a música popular e os temas tradicionais com a palavra de protesto. - fonte

traz outro amigo também


os vampiros
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No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada

Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende ás vidas acabadas

Eles comem tudo, eles comem tudo
...

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada

Eles comem tudo, eles comem tudo
... 
No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada

Eles comem tudo, eles comem tudo
...

São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo, eles comem tudo
...

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada

Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
...


a morte saiu à rua (sb. José Dias Coelho, assassinado pela PIDE)



venham mais cinco



menina dos olhos tristes (sb a guerra colonial)



era de noite e levaram (sb. as perseguições da PIDE)



menino do bairro negro



último concerto, no Coliseu de Lisboa: Grândola
29 de Janeiro de 1983


José Afonso, o Zeca, morreu há 25 anos, a 23 de Fevereiro de 1987


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quando 'a cantiga era uma arma'

ZÉ MÁRIO BRANCO; SÉRGIO GODINHO

eu vim de longe ..
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eu vi este povo a lutar ..
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que força é essa ..
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Que Força é Essa
Sérgio Godinho
Composição: Sérgio Godinho

Vi-te a trabalhar o dia inteiro
construir as cidades pr´ós outros
carregar pedras, desperdiçar
muita força p´ra pouco dinheiro
Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Muita força p´ra pouco dinheiro

Que força é essa
que força é essa
que trazes nos braços
que só te serve para obedecer
que só te manda obedecer
Que força é essa, amigo
que força é essa, amigo
que te põe de bem com outros
e de mal contigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo

Não me digas que não me compr´endes
quando os dias se tornam azedos
não me digas que nunca sentiste
uma força a crescer-te nos dedos
e uma raiva a nascer-te nos dentes
Não me digas que não me compr´endes

(Que força...)

(Vi-te a trabalhar...)

Que força é essa
que força é essa
que trazes nos braços
que só te serve para obedecer
que só te manda obedecer
Que força é essa, amigo
que força é essa, amigo
que te põe de bem com outros
e de mal contigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo
Que força é essa, amigo

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liberdade
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cão raivoso
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Mais vale ser um cão raivoso
do que um carneiro
a dizer que sim ao pastor
o dia inteiro
e a dar-lhe de lã e da carne e da vida
e do traseiro
mais vale ser diferente do carneiro
um cão raivoso que sabe onde ferra
olhos atentos e patas na terra.

Viva o cão raivoso
tem o pelo eriçado
seu dente é guloso
e o seu faro ajustado
Cão raivoso, cão raivoso, cuidado.

Mais vale ser um cão raivoso
que um caranguejo
que avança e recua e depois
solta um bocejo
e que quando fala só se houve a garganta
no gargarejo
mais vale não ser como o caranguejo
um cão raivoso que sabe onde ferra
olhos atentos e patas na terra.

Viva o cão raivoso
tem o pelo eriçado
seu dente é guloso
e o seu faro ajustado
Cão raivoso, cão raivoso, cuidado.

Mais vale ser um cão raivoso
que uma sardinha
metida, entalada na lata
educadinha
pronta a ser comida, engolida, digerida
e cagadinha
Mais vale ser diferente da sardinha
um cão raivoso que sabe onde ferra
ferra fascistas e chama-lhe um figo
olhos atentos e patas na terra.

Viva o cão raivoso
tem o pelo eriçado
seu dente é guloso
e o seu faro ajustado
Cão raivoso, cão raivoso, cuidado.

Mais vale ser um cão raivoso
dentes à mostra
estar sempre pronto a morder
e a dar resposta
a toda e qualquer podridão escondida
dentro da crosta
dentro da crosta das belas ideias
gato escondido de rabo de fora
dentro da crosta das belas ideias
gato escondido de rabo de fora.



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ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA






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Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava-a de crimes espantos
de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores

Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
de Cruzeiro Seixas (img esticada)
das bocas amordaçadas

Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas
casebres bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais

Afoga empenhos favores
vãs glórias, ocas palmas
leva o poder dos senhores
que compram corpos e almas

Leva nas águas as grades
...

Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo

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PORTO SENTIDO
.. uma das mais belas canções de amor que conheço, letra de Carlos Tê *, música e voz de Rui Veloso.

Rui Veloso e Carlos Tê


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* Entrevista Visão (15 de Junho de 2011 )
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O voo melancólico de Tê

Saberá ele que namoramos a rapariguinha do shopping e gingamos pela rua ao som do Lou Reed? Saberá que deixámos cair o coração no Rivoli, às mãos de quem não ouve a mesma canção? Saberá que o seu Porto sentido estendeu a ponte a outras geografias e afetos? Saberá que colecionamos Falcões e Mandrakes, sentimos as dores da adolescência, dos amores, da vida e revivemos epopeias, quotidianos e bailes de paróquia? Saberá, por fim, que lhe beijaríamos os pés pela eternidade do nosso imaginário coletivo?

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